"E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta. Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério." Hb 13:12-13
Esse texto é uma conclamação ao chamado de estabelecer sobre a terra o Reino de Deus. Um chamado para fazer avançar a grande comissão do nosso General.
Assim como Cristo padeceu fora das portas da cidade, é nosso dever padecer fora das portas da nossa instituição eclesiástica para com todo o esforço ser relevante nessa geração. Mesmo que se relacionar com a cultura ao nosso redor seja desconfortante, é nossa obrigação de fazê-lo. Servir ao chamado não é estar num parque de diversões!
Não me cabe julgar as coisas passadas na igreja, eu não estava lá, sou uma pequena ovelha caminhando apenas há cinco anos com o Bom Pastor.
Então eu vou me ater em falar do que observo nesses cincos anos.
Venho de um meio cultural. Envolvido com música, grupos de poesias, teatros e afins. Um grande choque na minha conversão foi aprender a lidar com a subcultura evangélica. Nunca compreendi bem essa separação entre mundo e igreja. Ao ler as Escrituras, as recomendações para não se associar com as “coisas” do mundo eram claras na minha mente. A instrução era para não agir promiscuamente como o mundo age, porém, parecia que a maioria das pessoas ao meu redor estavam satisfeitas com a interpretação de que os cristãos devam ficar isolados dentro de uma bolha eclesiástica, sob o pretexto de protegê-los das investidas de satanás através do mundo. Ora, está mais do que provado através dos fatos que essa estratégia não deixa ninguém mais santo ou temeroso ao Senhor, pelo contrário, cria um monte de monstrinhos exclusivistas e preconceituosos com todos que não façam parte do seu clubinho.
Não é a toa que a sociedade ainda enxerga o povo de Deus como seres alienados, e não é só por nossa convicção em assuntos polêmicos como sexo antes do casamento e aborto, mas por que o rebanho evangélico é mal informado, não se relaciona com a cultura ao seu redor.
C. S Lewis costumava dizer que um cristão deve andar com a Bíblia em uma mão e um jornal na outra. É obvio! Como ser relevante em nossa comunidade se não compreendemos o contexto cultural que estamos inseridos?
Na excelente e desafiadora obra Reformissão, Mark Driscoll sugere que a igreja hoje deva encarar o evangelismo local como obra missionária. Reformissão (reformar a missão) seria enviar missionários primeiramente em nossa cultura local. Aplicar ao nosso evangelismo o mesmo conceito que missionários aplicam em terras estrangeiras, se relacionando com a cultura, se tornando amigo das pessoas, criando um vinculo de amizade, e em um segundo momento apresentando a fé, mas acima de tudo, amando as pessoas independentes se aceitarão a Cristo, se mostrando relevante para aquela comunidade. Mas que fique claro que isso não significa abandonar as missões internacionais. Veja o que Driscoll descreve sobre o conceito de reformar a missão.
“A reformissão é um chamado radical para que os cristãos e as igrejas cristas retomem o compromisso de viver e comunicar o Evangelho, e para fazê-lo sem ceder às pressões para comprometer a verdade do Evangelho, ou sem segregar o seu poder à segurança do interior da igreja. O alvo da reformissão é liberar continuamente o Evangelho, para que este faça a sua obra de reforma das culturas dominantes e das subculturas das igrejas.”
Hoje o que acontece nas igrejas é que primeiro queremos enfiar Jesus goela abaixo nas pessoas, e só depois disso nos tornamos “amigos” delas. Até investimos um tempo, mas se elas forem resistentes ao evangelho, viramos as costas com nossa hipócrita consciência tranquila pensando que elas não eram predestinadas. Ora, não foi isso que Cristo nos ensinou!
Ele deu o exemplo, Ele se relacionava com os fariseus (religiosos ou crentes) e também com os loucos. Ele estava totalmente inserido na cultura local de sua cidade. E instruía os seus discípulos a se relacionar com a comunidade. Vêm e vê! Dizia o Mestre.
Eu observo o contexto de igreja na sociedade e choro amargamente por sua irrelevância, e digo sem medo de ser feliz que Cristo também chora como chorou por Jerusalém no passado!
A igreja precisa se relacionar com sua comunidade, precisa se tornar atraente com uma contextualização do Evangelho, porém, mantendo-se fiel as verdades das Escrituras. Precisamos estar comprometidos por completo no evangelismo relacional, tratando-o como uma verdadeira missão urbana.
Precisamos desmistificar toda essa questão entre materiais seculares e cristãos, isso é mais uma ferramenta para isolar o sal da comida. Os “santinhos” com as musiquinhas “santas” dos “santos mercados fonográficos gospels” de um lado, e os diabinhos sem Cristo com o rock n’ roll do outro. O crente, consciente e maduro, cheio do Espírito Santo, sabe discernir o santo do profano, tem maturidade como Daniel para conviver na Babilônia sem se contaminar e ainda testemunhar com atitudes o caráter de Deus.
Contudo, se relacionar com a cultura ao redor é perigoso. Há grandes riscos. Ouvi um chapa dizer que para conhecer um cristão basta jogá-lo no mundo. Talvez essa seja a desculpa de muitos líderes para manter sua igreja naquela rotina medíocre, mantendo-a como um clube social. É verdade que muitos ao se relacionarem com a cultura caem, se desviam. Porém, quem se desvia, na verdade, nunca esteve no Caminho. Pensava que estava, o convenceram que estava. Um falso evangelho ou um conjunto de regras morais dogmáticas costuma convencer que fariseus se tornaram cristãos genuínos.
Líderes! Instruam suas ovelhas a se lançarem sobre a Pedra Fundamental e eles serão despedaçados e libertos das mazelas ocultas que os fazem tropeçar quando se relacionam com a cultura. Deus preferiu nos confiar à missão de evangelizar a terra do que a anjos, e Ele sabia que havia riscos! Quando nos enclausuramos dentro de uma zona conforto institucional com medo do mundo estamos pecando contra Deus!
Concluo te convidando a sair da bolha! Te encorajo a olhar diferente para aqueles maconheiros, adúlteros, prostitutas, avarentos e toda raça de gente que não faça parte do seu clube social eclesiástico. Olhe para eles com a mesma misericórdia que Deus olhou para você.
Sejamos relevantes! Deus abençoe!
Por Marcello Comuna
Não sabe como esse texto está sendo "relevante" para mim. Obrigada.
ResponderExcluirMuitos deveriam ler e absorver o texto, excelente!
ResponderExcluirTexto excelente... pregação fascinante!
ResponderExcluirÀ Deus seja dada toda honra! Minha oração é para que as sementes desse texto encontrem terras férteis e assim, façamos uma verdadeira revolução na nossa cidade. Que possamos subverter a ordem babilônica com o Evangelho do nosso General!
ResponderExcluirCristo está convocando missionários urbanos...quem tiver ouvidos ouça.